CONEN BAHIA

CONEN - COORDENAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES NEGRAS-FÓRUM BAHIA

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Solo sagrado de Zumbi celebra 415 anos

terça-feira,  by Daiane Souza
João Paulo Farias/Acervo PessoalJoão Paulo Farias/Acervo Pessoal
Religiosos e civis sobem a Serra da Barriga onde viveu o líder Zumbi dos Palmares
Por Daiane Souza
A Serra da Barriga recebeu na madrugada desta segunda-feira (6) cerca de 100 pessoas para a celebração dos 415 anos de fundação e 318 de derrubada do Quilombo dos Palmares. A data que relembra a última batalha do Quilombo alagoano, ocorrida em 1694, foi escolhida pela representação da Fundação Cultural Palmares (FCP) em Alagoas para proporcionar, por meio do projeto De Volta a Angola Janga, a reflexão em torno do racismo e da intolerância religiosa.
Iniciado com uma celebração ecumênica, o encontro marcou a passagem do dia 5 para o dia 6 de fevereiro, especialmente para os religiosos de matriz africana. De acordo com Pai Paulo, presidente da Federação Zeladora das Religiões Tradicionais Afro-brasileiras em Alagoas, nesta noite reafirmou-se a liberdade de culto proibida há 100 anos por uma lei governamental.
Liberdade de culto – “O Xangô voltou a ser rezado alto numa terra onde esse tipo de discriminação infelizmente ainda existe”, explicou Pai Paulo, lembrando que no último 2 de fevereiro, Dia de Combate a Intolerância Religiosa, o governador Teotônio Vilela Filho pediu publicamente perdão histórico pelo massacre de mães e pais de santo ocorrido, em 1912, em Maceió.
De acordo com Pai Paulo, o marco já mostra mudanças importantes. Para citar um exemplo recente de intolerância contra religiões de matriz africana, em dezembro de 2011, a celebração onde são apresentadas oferendas à Iemanjá foi limitada em espaço e tempo na capital alagoana. “Este foi o último fato. Na Serra da Barriga, pela primeira vez nos manifestamos sem medo diante da sociedade”, relata o religioso.
Referência - Para Genisete de Lucena Sarmento, representante local da FCP, as reflexões no contexto da intolerância foram diversas, porém a data precisa ser fixada no calendário negro, como referência de um importante momento da resistência negra na história do Brasil. “Deve ser um momento de encontro com nossos desafios passados e atuais”, lembra.
Durante a subida à Serra da Barriga foram realizadas três paradas onde, a cada uma delas o ator Chico de Assis recitava poemas do ativista Abdias Nascimento e do poeta Jorge de Lima. Jovens do Grupo de Estudos Culturais Vixe Maria e da Pastoral da Juventude do Meio Popular também se apresentaram animando a noite e a recepção no platô do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, onde foi servido o café da manhã.  
De acordo com Genisete, a luta do povo negro por justiça e liberdade em busca de uma sociedade verdadeiramente democrática é uma realidade, infelizmente, ainda sem prazo para acabar. “O combate ao preconceito precisa ser uma conquista diária”, pontua, na esperança de fortalecer o debate para as gerações, especialmente as remanescentes de Angola Janga.

Projeto Alcântara – Cidade Sustentável é apresentado à comunidade

segunda-feira,  by Mônica Santos
Mônica Santos/FCPMônica Santos/FCP
Coronel Nilo Andrade explica sobre projeto Alcântara Sustentável
Por Mônica Santos
A Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, apresentou na última quarta-feira (1), o projeto Alcântara- Cidade Sustentável durante reunião realizada com lideranças de comunidades quilombolas do município. O encontro aconteceu no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado a 408 quilômetros da capital São Luis, no Maranhão, com a participação da Fundação Cultural Palmares (FCP) e a Secretaria de Estado de Igualdade Racial.
O projeto elaborado pela AEB, em parceria com a Alcântara Cyclone Space, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável e o Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE_MA), visa o desenvolvimento do município de Alcântara, formado por aproximadamente 3500 famílias quilombolas. A proposta é atender as comunidades da região com geração de trabalho e renda, por meio de ações de reaproveitamento de resíduos, uso racional da floresta, habitação, saneamento, agricultura de alimentos e energia.
O projeto também contempla a criação de um espaço multifuncional para atendimento de saúde, cozinha comunitária, realização de oficinas comunitárias e atividades culturais; uma estação de triagem, para separação do lixo; além da cidade digital, cooperativas, escolas e hotéis.  Um novo atracadouro de cargas deve ser construído, ainda este ano, próximo às agrovilas Espera e Cajueiro.
De acordo com o diretor de Transporte Espacial e Licenciamento da AEB, coronel Nilo Andrade, o projeto vai levar benefícios concretos às famílias quilombolas, contribuindo para a autonomia da população. “ A proposta vai garantir que tenhamos um feedback da comunidade para que possamos saber o que ela quer e pensa e, assim, oferecer uma qualidade de vida aos moradores da região”, destacou.
Nilo Andrade disse ainda que a implementação de cada fase dos programas deve ter a participação dos representantes das comunidades quilombolas de Alcântara. Para aprender a lidar com a nova realidade que foi apresentada, eles terão o treinamento e a capacitação necessários. “Eles terão todo apoio da AEB e de nossos parceiros. No caso das cooperativas, a finalidade é assinar um acordo de parceria pública-privada, com o qual os quilombolas tenham toda assistência necessária por 35 anos renováveis por mais 35”, explica.
Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, a comunidade que durante muitos anos ficou isolada agora vai ter o direito de acessar aos bens culturais e econômicos. “O desafio é assegurar a inserção social. O governo brasileiro quer buscar as soluções para as comunidades quilombolas por meio do diálogo. É um processo. E isso é o que estamos fazendo aqui”, enfatizou.
Comunidade Quilombola – Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Samuel Araujo Moraes, a reunião cumpriu sua finalidade que era a de apresentar o projeto, agora, é preciso ver a viabilidade da implementação das propostas. “ Vejo benefício no projeto, mas vamos nos reunir e discutir as propostas apresentadas e só assim poderemos ter uma opinião certa sobre os benefícios do projeto para a região. Uma nova reunião foi marcada para a primeira quinzena de março”, comentou.
Uma das preocupações colocadas durante a reunião foi com relação a titulação das terras.  Certificada pela FCP, em 2004, a comunidade quilombola de Alcântara aguarda agora a titulação pelo  Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A presidente da Associação da Comunidade Mamona, Militina Garcia, acredita que o projeto Alcântara Cidade Sustentável garantirá o desenvolvimento das comunidades, mas a titulação dará o direito a terra. “Sabemos que o desenvolvimento é necessário, mas a titulação é o que vai assegurar a permanência, a posse à terra e o desenvolvimento”, esclareceu.